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Ampliando o olhar sobre sintomas

AMPLIANDO O OLHAR SOBRE OS SINTOMAS

Sabemos da importância de um bom diagnóstico que nos orienta e nos sirva para direcionar o processo terapêutico. Além disso, o protocolo a ser seguido com cada indivíduo dependerá muito do quanto o seu funcionamento vem sendo afetado. É inquestionável que o material científico produzido ao longo dos últimos anos tem nos auxiliado bastante na busca pelo entendimento e o alívio do sofrimento humano. Sem deixar de considerá-lo e com o objetivo de ampliar o olhar sobre as queixas apresentadas no consultório, a visão sistêmica dos sintomas tem sido de grande ajuda.

Nesta perspectiva, o sintoma pode ser observado de diversas formas. Como um ato comunicativo no sentido de ser uma forma que o corpo encontrou para expressar o que sente. A comunicação é o mecanismo de que dispomos para interagir socialmente e nos vincular, portanto o comportamento de um indivíduo, seja sintomático ou não, vai sempre afetar o outro, gerando reações complementares de acordo com a mensagem transmitida. Quando nos comunicamos através de um sintoma, estamos fazendo uma espécie de pedido de ajuda. A ansiedade nos pede para desacelerar e pensar mais no presente, o TDAH nos convida a pensar sobre como tem sido a atenção nos ambientes em que estamos inseridos, o mutismo seletivo nos transmite a ideia de que algo não pode ser dito, talvez um segredo ou uma dificuldade de compreensão intersistêmica.

Os sintomas podem ser vistos também como uma forma de proteção de pessoas próximas, a medida que o individuo sintomático se encarrega de ser o depositário dos problemas da família. É um alívio para muitos pais receber o diagnóstico de um filho para poder ajudá-lo, mas muitas vezes, logicamente sem ter consciência disso, eles próprios são parte do problema. Desta forma, a melhora dos sintomas individuais será alcançada através de uma parceria deles próprios com seu filho a medida que se propõem também a mudar e a descobrir novas possibilidades de interação.

Sendo uma porta de entrada para o entendimento do indivíduo, o sintoma algumas vezes retrata um aspecto estagnado, como um congelamento da vida em determinado momento em que o sistema estava disfuncional. O individuo sintomático se encarrega então de manter a homeostase desse sistema, evitando uma transformação mais profunda na organização familiar. Quando uma situação fica inacabada em nosso passado, muitas vezes repetimos o mesmo padrão de comportamento como se tentássemos resolvê-la sem nos darmos conta do quanto nos afeta. Atualizando nossos modos de relação, identificando interrupções e resistências, podemos sempre buscar novas possibilidades de vida.

Não menos importante, o sintoma pode ser observado a partir de um ponto de vista simbólico. Utilizamos metáforas para descrever um problema e com isso temos a oportunidade de descobrir novas vias de comunicação e tratamento. Como um sinalizador da direção a ser seguida, não podemos esquecer que um sintoma, antes mesmo de ser retirado deve ser compreendido, pois ele possui uma função em sua vida. Descobri-la, assim como investigar os ganhos secundários obtidos a partir de sua manifestação são premissas de um bom acompanhamento psicoterápico que tenha ainda como objetivo primordial favorecer o desenvolvimento individual e relacional do paciente.

Tatiana Caiafa de Pontes
Psicoterapeuta individual, casal e família
www.essenciadamente.com.br

Vanessa Loschiavo

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Vanessa Loschiavo

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